Oito anos. Caramba, como o tempo
passa rápido! Ou nem tanto assim, porque eu lembro exatamente a cor da sua
blusa naquela tarde fria que, enfim, nos encontramos. Um azul Royal que deixava
toda a sua pele branca tão linda. Você ficava com aquele rosto todo vermelho de
vergonha a cada palavra e com aquele sotaque que soava tão familiar. E eu
lembro também que aquele dia foi tão rápido, mas podia ter durado a eternidade.
Eu me lembro de tudo. Tudo mesmo.
Ah... Faz tanto tempo em que
tivemos nossa última conversa que eu nem sei por onde você anda agora. A
distância deixou de ser só física há alguns anos. Três, pelas minhas contas. E
isso me faz pensar que os planos não eram esses; os nossos planos. Fizemos e
construímos juntos, mas eu joguei tudo pela janela. Eu tive tanto medo... Um medo
de perder o que eu já tinha conquistado, ou de ficar sem coisas que eu amava e
que eu sei que me fariam falta. E eu simplesmente não dei bola para o quanto eu
sentiria a falta de ter você. E isso dói toda a vez que eu escuto a Kelly
Clarkson cantar. Não precisa ser exatamente “Beautiful Disaster”, mas as
músicas dela me lembram do quanto eu perdi. De tudo o que eu deixei de viver
com você.
Lembro, ainda hoje, dos nossos
aniversários e das conversas longas pelo telefone, principalmente aquelas que a
gente tinha que fazer escondidos. Eu não podia ser descoberto e você fazia tudo
tão certo que eu me sentia seguro. Acho que esses eram os únicos momentos que
eu não sentia medo, ou que pelo menos você me ajudava a disfarçar com
superdoses de alegria. Você me deixava viciado naquele sentimento e tudo isso
só me fazia bem.
Aquela falsa reabilitação; uma
prisão. Eu não conseguiria sozinho e, mesmo tão longe, foi você quem me ajudou
a superar dia após dia, sem perder as esperanças. Mas eu não achei mais justo
com você, mesmo tendo você com tanta segurança e otimismo. Mesmo ouvindo quase
todos os dias que aquilo tudo estava próximo de acabar e que estaríamos juntos
logo. Você não tem ideia do quanto eu me sentia abraçado quando você me dizia
“eu nunca vou desistir da nossa história”. E eu não consegui.
Eu desisti. Eu fugi. Eu corri o
mais longe possível. Eu ignorei o meu primeiro amor. Eu deixei pra trás quem
merecia o meu amor e a minha total gratidão. E você só teve notícias minhas
depois de mais de um ano quando voltei de Londres. Você nem imaginava o que eu
tinha passado ou se eu ainda estava vivo. Mas eu só tinha fugido de você. Eu
nunca tive coragem de lhe dizer, mas ninguém me obrigou a ir, eu só não conseguia
aceitar o meu erro de deixar você. Aquilo me corroía, porque eu sabia que a culpa era só minha.
Eu quase tive um ataque cardíaco
quando vi você novamente. Mudo e estático. Mas eu sabia que a sua vida tinha
tomado um rumo melhor e eu só atrapalharia naquele momento. Eu parti novamente,
no entanto, consciente de que eu não era bom o bastante pra você. Eu poderia
ter ficado, mas não duraria muito tempo. O melhor foi deixar suas forças
renascerem com aquela boa impressão de que você nunca fez algo errado. Verdade
nua e crua. Parece clichê, mas o problema realmente foi comigo. O erro fui eu.
Finalizo.
Murilo de Carvalho
Murilo de Carvalho
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