quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Doces desejos abandonados de uma lembrança inacabada.

Oito anos. Caramba, como o tempo passa rápido! Ou nem tanto assim, porque eu lembro exatamente a cor da sua blusa naquela tarde fria que, enfim, nos encontramos. Um azul Royal que deixava toda a sua pele branca tão linda. Você ficava com aquele rosto todo vermelho de vergonha a cada palavra e com aquele sotaque que soava tão familiar. E eu lembro também que aquele dia foi tão rápido, mas podia ter durado a eternidade. Eu me lembro de tudo. Tudo mesmo.

Ah... Faz tanto tempo em que tivemos nossa última conversa que eu nem sei por onde você anda agora. A distância deixou de ser só física há alguns anos. Três, pelas minhas contas. E isso me faz pensar que os planos não eram esses; os nossos planos. Fizemos e construímos juntos, mas eu joguei tudo pela janela. Eu tive tanto medo... Um medo de perder o que eu já tinha conquistado, ou de ficar sem coisas que eu amava e que eu sei que me fariam falta. E eu simplesmente não dei bola para o quanto eu sentiria a falta de ter você. E isso dói toda a vez que eu escuto a Kelly Clarkson cantar. Não precisa ser exatamente “Beautiful Disaster”, mas as músicas dela me lembram do quanto eu perdi. De tudo o que eu deixei de viver com você.



Lembro, ainda hoje, dos nossos aniversários e das conversas longas pelo telefone, principalmente aquelas que a gente tinha que fazer escondidos. Eu não podia ser descoberto e você fazia tudo tão certo que eu me sentia seguro. Acho que esses eram os únicos momentos que eu não sentia medo, ou que pelo menos você me ajudava a disfarçar com superdoses de alegria. Você me deixava viciado naquele sentimento e tudo isso só me fazia bem.

Aquela falsa reabilitação; uma prisão. Eu não conseguiria sozinho e, mesmo tão longe, foi você quem me ajudou a superar dia após dia, sem perder as esperanças. Mas eu não achei mais justo com você, mesmo tendo você com tanta segurança e otimismo. Mesmo ouvindo quase todos os dias que aquilo tudo estava próximo de acabar e que estaríamos juntos logo. Você não tem ideia do quanto eu me sentia abraçado quando você me dizia “eu nunca vou desistir da nossa história”. E eu não consegui.

Eu desisti. Eu fugi. Eu corri o mais longe possível. Eu ignorei o meu primeiro amor. Eu deixei pra trás quem merecia o meu amor e a minha total gratidão. E você só teve notícias minhas depois de mais de um ano quando voltei de Londres. Você nem imaginava o que eu tinha passado ou se eu ainda estava vivo. Mas eu só tinha fugido de você. Eu nunca tive coragem de lhe dizer, mas ninguém me obrigou a ir, eu só não conseguia aceitar o meu erro de deixar você. Aquilo me corroía, porque eu sabia que a culpa era só minha.


Eu quase tive um ataque cardíaco quando vi você novamente. Mudo e estático. Mas eu sabia que a sua vida tinha tomado um rumo melhor e eu só atrapalharia naquele momento. Eu parti novamente, no entanto, consciente de que eu não era bom o bastante pra você. Eu poderia ter ficado, mas não duraria muito tempo. O melhor foi deixar suas forças renascerem com aquela boa impressão de que você nunca fez algo errado. Verdade nua e crua. Parece clichê, mas o problema realmente foi comigo. O erro fui eu.



Finalizo.
Murilo de Carvalho

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A melhor decisão para o meu momento.


Eu fiquei muito tempo sem deixar que meus sentimentos saíssem. Mas nem foi por intenção que eles ficaram presos, porque eu nunca desejei um local secreto para eles morarem. Eles se travaram. Só isso.

Já levei tanta martelada que os calos do coração parecem nem doer mais. Entretanto, sei que vão doer ainda algumas vezes e, por isso, inconsciente ou não, eu decidi começar a andar em cascas de ovos.

Vou aos poucos, mas ainda não consegui ir. Passos curtos e pequenos. Às vezes só realinho os pés para mostrar a mim mesmo que eu me mexi e estou tentando fazer algo diferente. E realmente estou, mas com calma.

Bobagem? Enganar a mim mesmo? Para! Isso seria mais fácil. Hoje, porém, eu prefiro agir assim e me sentir bem desse jeitinho. Qual o problema em querer ter mais cautela? Eu quero ser balançado, mas não de um lado para o outro.

Canso-me só de pensar em novas oportunidades, porque tudo me parece vago o bastante para desistir no primeiro tropeção. Talvez se decidirem me chacoalhar, a melhor forma seja me jogando para o chão, um lugar que eu sempre procurei abrigo.

Mas isso aqui nem ao menos é uma dica. Não basta força nos braços ou agilidade mental. Quem sabe, por lidar melhor com, as palavras sejam onde minha fraqueza mora. (E novamente isso não é uma dica, ok?).

Talvez você que esteja lendo tenha toda essa perspicácia, mas eu nem sei se eu gostaria que você lesse isso. Eu só estou enchendo mais uma lauda com meus sentimentos e decidindo qual o sabor de sorvete eu vou tomar quando acabar.


É... Pistache.



Finalizo.
Murilo de Carvalho

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Quiçá eu esteja esperando.




“Eu fiz isso por motivos de...”. “Se eu tivesse tempo...”. “Amanhã eu começo...”. Até quando você vai continuar se enganando com desculpas que só fazem o seu tempo passar e você envelhecer?

Não estou falando isso para que você se sinta tocado, é que eu apenas me canso de não ver respostas imediatas que mostrem crescimento e maturidade nesse mundo ideal que você diz viver.

Eu já virei para o meu espelho algumas vezes e falei isso. Meus amigos e as pessoas que vivem ao meu redor, por algum motivo em algum momento da minha vida, certamente já escutaram tais desculpas saindo de mim.

Para sair de casa, para recomeçar a academia, para comer a quantidade certa, para comer menos chocolate. Mas eu sou do tipo que se eu decidir valeu a pena esperar e vai durar uma eternidade.

Eu só não suporto você me ligar e dizer que “queria”, “gostaria” ou “saberia”. Chega de condições! Eu só quero ver você agir e me mostrar que eu posso confiar pra apertar esse “play” que está começando a enferrujar.

Amanhã eu não vou esperar você me ligar. Amanhã eu quero que você apareça. Mas, por favor, não diga nada. Apareça e me mostre porque eu devo deixar você ficar. Depois, talvez, a gente pode ter essa conversa.



Finalizo.
Murilo de Carvalho

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Apenas porque você não permitiu.



Talvez eu nunca tenha pensado em escrever sobre você. Talvez o grande motivo seja porque você não aconteceu. Pensando bem quase aconteceu. Eu fico relembrando todas as vezes que nós podíamos ter acontecido em quase cem por cento, ou pelo menos naquela quantidade que eu acreditaria ser suficiente.

Mas realmente nunca ter escrito sobre você me causou um vazio nessa manhã, que mistura chuva e um sol bem amarelado de uma primavera inconstante. Uma inconstância que combina perfeitamente com os meus sentimentos por você quando lembro que o “nós” não aconteceu e, certamente, jamais vai acontecer.

Você partiu depois de não chamar mais por mim e ir em busca de quem nem tinha mais a ver com a sua essência. Mas para mim não bastava um pedacinho, eu queria a melhor parte e eu não tive como impedir. Você foi. Eu fiquei. Simples assim. E ninguém mais soube explicar o porquê apenas foi desaparecendo.

Eu chorei um dia inteiro. Sim, eu acordei e me banhei do meu próprio choro e só parei quando o dia realmente anoiteceu. As lágrimas não eram pela perda da melhor cama, das divertidas risadas e das comilanças descontroladas que você me impunha e eu aprendi a me deliciar. Era a perda de quem eu ainda nem ao menos tinha conquistado.

Você foi. Eu fiquei. E até hoje você não faz ideia do quanto doeu – acho que nunca vai ter essa noção. E nos encontramos só mais uma vez, e eu nem pude te abraçar. Eu nem pude olhar você direito. Eu tive medo dos seus olhos verem os meus. Eu tive orgulho em demonstrar que eu nunca fiquei bem quando você decidiu não voltar mais.

Eu escrevo hoje para que eu saiba que você realmente não aconteceu. E eu também não aconteci para você. Eu teria amado e teria ensinado a você com muita calma a sentir o mesmo, mas não calhou. Eu guardo ainda aquela “parte de mim” que presenciamos juntos e talvez seja essa a minha última lembrança de você.



Finalizo.
Murilo de Carvalho