domingo, 17 de junho de 2012

Cantigas Livres do Autor

Gosto de sintonia. 
Do cheiro que vem e encaixa.
Da chama que reluz 
E, também, aquece.

Eu tenho encontrado
Não aquilo que se procura,
Mas o que se realmente pode ver.
Que se pode tocar e afagar.

Cansei-me do abstrato,
Das possibilidades.
Hoje vivo intensamente pelo concreto,
Pela certeza.

Chega a ser engraçado,
E não só porque é divertido,
Todavia é algo que poderia já ter acontecido.
O que não era certa hora para.

Coloco o relógio para girar,
Calmo e em sincronismo.
Desde o começo não se torna um processo difícil,
Quando, enfim, os pés estão no chão.

Viva, vire e veja.
Até o Sol raiar ainda tem muita música.
Los faço em pedaços de papéis
E também em motivos de sorrisos.

Não mais em preto e branco.
Em cores vívidas e plenas.
Canetas nas mãos, nas duas, nas nossas.
Então, abre-se o livro.


Finalizo
Murilo de Carvalho

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Métrica Elaborada

Descobri um novo desejo.
Desejo estranho que almejo.
Algo que me traz vontades,
Mas nada que preencha em profundidades.

Fazer parte de algo que não se conhece
É muito mais irreal que algo que não perece.
Talvez um surto de sucesso
Traria a mim um novo acesso.

Qual o real sentido de um bom lugar para morar
Se você não sabe se esconder é o que vai precisar?
Fugir nunca é o caminho, 
Entretanto, busco aos poucos rotas nesse pergaminho.

Que tudo é feito de escolha e consequência
Todo mundo sabe e nunca esquece essa sequência.
Todavia triste se faz onde habito
Sujo, podre, tudo aquilo que de mim debito.

Nenhum mortal aqui se vê satisfeito
E para alguns isso traz uma imensa dor no peito.
Embora insistam em lutar com esnobismo
Acabam suas noites em pleno abismo.


Hoje faço da minha poesia um grito de esperança,
Apesar de não ver felicidade em qualquer semelhança.
Busco um sorriso como diferencial,
Pois para mim isso sempre se mostrou essencial.



Mal se faz em qualquer efeito,
Corro léguas, mas aqui não encontro ar rarefeito.
Por sentir meus pés em fétida lama,
Retiro meu ser para voltar a andar em grama.







Finalizo.
Murilo de Carvalho

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Higienização Final

Alguém me ajuda? Preciso me limpar com urgência.
Eu estou procurando uma fórmula bem ácida que faça com que minha pele caia por inteira.

É asqueroso pensar que você já me tocou um dia. Parece que minha vida cheira a lixo.
Se eu deitar no chão, tenho total certeza que diversos ratos vão se atrair, além de baratas e insetos, porque teu cheiro ainda está aqui.

Vontade de rasgar a pele e trocar por uma nova, sem lembrar que aqui foi tudo seu um um dia.
Realmente, um dia foi seu. E nada mais sobrou aqui para ser seu. Nada.
A pele que você nunca cansou de agredir. Nem sei mais quantos socos, tapas, arranhões, beliscões, mordidas... Até cuspes e bebidas você lançou contra ela.
Quem diria, não? Um dia você disse que essa mesma pele levava você a uma loucura incrível. Certamente, levava a loucura, porque você se tornou uma vergonha pública.
Mas sabe que eu estou agradecendo você. E muito. Você limpou todo o sentimento bom que tinha aqui dentro de mim. E os céus vibram por eu não sentir mais qualquer atração física por você.
Gosto de olhar para as fotos e sentir que você nem parece ter existido na minha história.
Boas lembranças... Eu nunca vou encontrá-las. De você apenas uma recordação: dor.
O cheiro da liberdade está construindo essa minha nova casca. Mais bonita, mais valiosa.
Aliás, não tem como você ter conhecimento sobre beleza e valores, você nunca viveu ou vai viver quaisquer desses conceitos.


Finalizo.
Murilo de Carvalho

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Apenas Um Pouco Mais


Talvez o motivo maior de um sorriso
Possa ser a concretização de um sonho.
Sonho daqueles que não se sonha e acorda e passa.
É daqueles que são pra viver acordado.


Eu descobri um sorriso doce e tímido
E há algum tempo ele tem me feito sonhar.
Passo dia, horas e momentos bons pensando
E só consigo querer mais.


Não dá pra imaginar como seria sonhar sem teu sorriso.
Sim, aquele de lado, aquele contido. 
Eu queria sonhar mais, 
No entanto, sei que o tempo mostra o momento certo.


Tenho deixado a ansiedade de lado.
Tudo para que o meu sonho não se estrague.
Tudo para preservar o seu sorriso.
Bem assim, desse jeitinho.


Qual seria a razão maior
Se eu não pudesse abrir minhas asas,
Divertir-me nos teus lábios alegres
E, enfim, deixar minha imaginar voar?


Inesquecível foi o teu sorriso
Naquela noite em que meu coração, então, pensou:
Será que é a minha vez?
Chegou a hora de eu me entregar?


E foi.
Totalmente imprevisível.
Cada um descobrindo o outro.
Aos poucos e em doses exatas.


Se hoje eu pudesse fazer um só pedido,
E seria feita da seguinte forma:
Sorria para mim,
Pois esse amor nasceu assim.


Finalizo.
Murilo de Carvalho

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Preparando Meu Acorde


Nem sempre é necessário fechar os olhos, as memórias acontecem por um simples piscar.
Algumas estranhas artimanhas infelizmente sempre ajudam a manter uma ferida aberta. E a busca dessa cura parece sempre infinita.
Hoje ao acordar, olhei o parque e via tudo em neblina. Ao fundo, bem escondido entre as árvores, havia um garoto sentado na grama e sozinho tocava uma flauta.
Um som tranquilo trazia notas doces, mas seu semblante não tinha qualquer expressão de alegria. Reconheci, então, a música que saia daquele instrumento e lembrei-me da letra triste e dolorosa.
 Às vezes as músicas podem significar magia, harmonia para aqueles que as ouvem, mas o que ninguém vê é como ela foi composta. Como o autor se sentia naquela noite, dia, ou tarde calorosa? De onde vieram aquelas palavras? O coração estava esperançoso ou aflito?
Os sorrisos nem sempre se expressam por clareza, mas também por necessidade. Uma combinação sorriso e olhar é difícil de ser interpretada hoje em dia, e essa realmente revela entusiasmo.
Olhei-me no espelho, após aquele momento de reflexão, e só o que me vinha na cabeça era o som daquela música emitida por tal instrumento.
Será que meu sorriso tem sido por necessidade? Será que minha alegria tem sido algo para agradar os demais?
Quantas vezes eu não sei o motivo do sorriso ou de uma lágrima.
Que nada é como planejado, todos nós estamos cansados de saber. Entretanto, penso que nosso telhado é sempre de vidro: frágil e transparente; fácil de ver e de ser atingido. 
A vontade agora é de compor. Descobrir como o coração anda e ver quais notas podem ser tocadas. Quero saber o nível de entusiasmo do meu som e, então, tocar qualquer instrumento para que essa melodia possa, então, ser ecoada.
Não obstante infelizmente, vocês nunca vão saber o teor da minha música.




Finalizo
Murilo de Carvalho