Talvez eu nunca tenha pensado em escrever sobre você. Talvez o grande motivo seja porque você não aconteceu. Pensando bem quase aconteceu. Eu fico relembrando todas as vezes que nós podíamos ter acontecido em quase cem por cento, ou pelo menos naquela quantidade que eu acreditaria ser suficiente.
Mas realmente nunca ter escrito
sobre você me causou um vazio nessa manhã, que mistura chuva e um sol bem
amarelado de uma primavera inconstante. Uma inconstância que combina perfeitamente
com os meus sentimentos por você quando lembro que o “nós” não aconteceu e,
certamente, jamais vai acontecer.
Você partiu depois de não chamar
mais por mim e ir em busca de quem nem tinha mais a ver com a sua essência. Mas
para mim não bastava um pedacinho, eu queria a melhor parte e eu não tive como
impedir. Você foi. Eu fiquei. Simples assim. E ninguém mais soube explicar o porquê
apenas foi desaparecendo.
Eu chorei um dia inteiro. Sim, eu
acordei e me banhei do meu próprio choro e só parei quando o dia realmente
anoiteceu. As lágrimas não eram pela perda da melhor cama, das divertidas risadas
e das comilanças descontroladas que você me impunha e eu aprendi a me deliciar.
Era a perda de quem eu ainda nem ao menos tinha conquistado.
Você foi. Eu fiquei. E até hoje
você não faz ideia do quanto doeu – acho que nunca vai ter essa noção. E nos
encontramos só mais uma vez, e eu nem pude te abraçar. Eu nem pude olhar você
direito. Eu tive medo dos seus olhos verem os meus. Eu tive orgulho em
demonstrar que eu nunca fiquei bem quando você decidiu não voltar mais.
Eu escrevo hoje para que eu saiba
que você realmente não aconteceu. E eu também não aconteci para você. Eu teria
amado e teria ensinado a você com muita calma a sentir o mesmo, mas não calhou.
Eu guardo ainda aquela “parte de mim” que presenciamos juntos e talvez seja
essa a minha última lembrança de você.
Finalizo.
Murilo de Carvalho
Murilo de Carvalho
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