Faz alguns dias que tento
escrever sobre isso, mas eu não encontro tempo e nem as palavras certas. Mas eu
nem quero que saia tudo certinho, eu só quero que saia. Eu recebi notícias e
descobri que foi o melhor que poderia ter me acontecido. E depois eu fui
escutar a música que mais me fazia lembrar de você. Coloquei meus fones, sentei
no chão e encostei na cama. Deixei aquele vento tomar conta do meu rosto e
todas aquelas palavras entrarem. Eu precisava entender o que se passava e a
sensação não poderia ser diferente.
Não é um bom momento pra você,
talvez nem seja pra mim também, mas eu sei que estou melhor, que meus passos
têm acontecido um pouco mais largos que os seus. Mas eu gostaria que você
soubesse que mesmo assim eu não fiquei feliz. Eu sei que querer quebrar
correntes seja uma das opções, entretanto, quem disse que hoje é dia de
indulto?
Mas quero dizer que tudo agora
faz sentido. Sair e sentar em uma mesa feita pra dois nem é mais um grande
problema, eu já aceito mais tranquilamente que antes. Acredito que esse
processo de aceitação aconteceu ainda melhor quando eu deixei de querer que
você fosse a companhia naquele jantar japonês ou para aquele café de um sábado
em uma manhã qualquer. Eu prefiro que alguém venha perguntar se aquele outro
assento está liberado e possa levar a cadeira.
Acho que consciente, ou até
inconsciente, eu já busquei o seu rosto nos meus sonhos, mas nenhuma vez foi
agradável. Hoje eu já não tenho mais essa preocupação, será apenas mais uma
face em meio àquele preto e branco que meus pensamentos sonolentos costumam
acontecer. Eu nem estou perto daquilo que gostaria de chegar, mas eu sei que a
cada dia a distância que adquiro do que vivi é o melhor que tem me acontecido.
E aí sim eu sorrio com força.
Eu escrevo e nem quero que você
leia, porque ainda guardo coisas boas como algumas viagens despretensiosas e o
quanto a noite era tão mais feliz quando a gente estava juntos, mas eu descobri
novas formas de fazer com a minha noite tenha ótimos sabores e me tragam,
assim, prazeres verdadeiros. Falo sobre verdade porque você, eu e todo mundo
sabemos que a mentira foi o maior parceiro nessa trilha cheia de buracos e
precipícios. Mas já me desviei de todos e já me curei dos machucados causados
por tantos tropeções massantes.
Eu apenas não me lembro de ter
dito adeus quando fui embora. Eu recolhi todas as minhas malas e aquelas
garrafas que eu colecionava. Joguei tudo atrás da camionete e dirigi, sem rumo, aquela noite toda. E tudo
isso nem foi por remorso, rancor ou ódio, como você deve concluir. Fiz isso
apenas porque essas pontes que eu construí me fazem encontrar caminhos muito
melhores.
Murilo de Carvalho
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