Sempre fui muito astuto, mas, mesmo assim,
todas as cicatrizes e marcas foram causadas. Eu não soube correr, eu não soube
gritar o suficiente. Eu só quis acreditar que aquilo não acontecia.
Hoje, quando relembro pelas marcas de
outrem, todo um rancor é causado em mim. O erro não foi seu quando quis
tocar-me daquela forma, o erro foi meu em aceitar que aquilo continuava.
Parece fácil tentar fugir, mas difícil
também não era. Olha pra mim, olho para o espelho. Nunca quis minhas lágrimas
lavando minha face pela vergonha que sentia de mim mesmo. E quem era você?
Acho que errei muito em aceitar o dia que
resolvi conhecer quem você era, mas acertei ainda mais quando soube que o
melhor era desistir de ver o monstro que existia em você e me permitir fugir
das suas presas.
Aliás, que presas, não? Afiadas, brancas
como um marfim e com uma ferocidade que nunca ninguém compreendeu. Mas ninguém
viu suficientemente como eu e, mesmo assim, eu jamais vou decifrar.
Lanço-me no mar do esquecimento sobre todas
as coisas que se diziam boas, mas eu nunca mais as encontrei, pois toda a
escuridão da sua realidade me parece mais verdadeira que toda a encenação de
boa e centrada pessoa.
Quem imaginaria que um dia me veria nessa
raiva, nessa fúria? Eu me imaginei? Mas se eu puder, e vou, lutarei pelos meus
e por aqueles que acolherei. Pois se depender da minha fúria, muita paz será
gerada.
Mas apesar de tudo, e de todas as cascas de
ovos em que, por uma vontade que desconheço, pisei, hoje tenho passos largos e
firmes dos quais eu me orgulho. Movo-me com coragem e sem receio dos riscos.
Vivo da maneira que todos meus limites são
superados, mas não por querer demonstrá-los a qualquer que seja o ser, mas para
me certificar diariamente que eu posso e conquisto aquilo que preciso.
Viva! Aquele que foi marcado, hoje pode
marcar história de coragem.
Viva! Esse não é o que vira a face, mas
aquele que a ergue.
Viva! Não é uma comemoração, mas um brado
de força, de sede por justiça.
Finalizo
Murilo de Carvalho
<3
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